Amor de Indío

Durante anos, viveram uma história que oscilava entre amor e tempestade. O que começou como uma paixão arrebatadora logo se tornou um labirinto de dores, marcado por mentiras e traições. Carregavam feridas antigas, cicatrizes invisíveis que tornavam cúmplices e prisioneiros. Dias se perdia dentro de si, afundando em pensamentos que afastavam da realidade. Lutava contra seus próprios fantasmas, sabotando a felicidade sempre que parecia próxima. Amavam, mas não sabiam amar sem destruir. Cada promessa quebrada, cada noite de silêncio sufocante, cada lágrima derramada transformava-se um obstáculo. O tempo passou e, em meio ao caos, um milagre aconteceu. Estava grávida. No início, o medo dominou. Duvidava de sua capacidade de ser, de oferecer algo melhor do que o vazio. Temia. Seria capaz de proteger aquela nova vida quando mal conseguia se proteger de si? A chegada iluminou suas vidas. O primeiro choro, o primeiro toque, os pequenos olhos curiosos explorando o mundo – tudo isso trouxe um novo significado ao que antes era apenas dor. Entenderam que havia algo maior do que sombras. Não era apenas um fruto do passado conturbado, mas uma luz que mostrava um caminho diferente, uma chance de recomeçar. A transformação não foi imediata, nem perfeita. Existiam cicatrizes, memórias dolorosas que às vezes ameaçavam voltar. Mas agora, ao invés de se perderem, encontravam forças. Cada sorriso lembrava que o amor não é um campo de batalha – ele também podia ser abrigo, cura e redenção. Décadas de tempestades, decidiram escrever uma nova história. E, dessa vez, seria uma história onde o amor aprendia a permanecer, onde o passado não definia o futuro, e onde a felicidade, ainda que tardia, finalmente encontrava seu lugar.

Concreto

Nas águas onde os peixes dançam, na mata onde as onças caçam, no céu que as araras cruzam, e nos lagos onde as garças sonham — a vida insiste, mas os ratos já não vivem, as baratas resistem, mas dragões dormem, escondidos no frio úmido de suas cavernas. O inverno vem, e o povo clama, mas a fé se perde entre o gelo e a fome. Minha lâmina cega, minhas mãos vazias, nove andares acima, nove metros abaixo, nenhuma saída me resta. A estufa de sonhos arde na ausência, onde teu mel já não amanhece nem se dissolve no anoitecer. As palavras tropeçam antes do destino, mas como tudo não passa de um diário esquecido, que fiquem com vocês as histórias que não soube terminar..