Quando o Cacique Chamou

Quando menino, corria descalço pelas ruas de pedras quentes do Junco, sonhando com gritos de gol ecoando no Junco, o estádio. Queria ser camisa 10, queria ser lenda. Mas em Sobral, nem todo sonho vira bola no campo. O pai dizia: “Futebol é bonito, mas o feijão precisa da certeza.” E ele seguiu o conselho. Virou advogado. Bom no que fazia. Ganhava causas, falava bonito no tribunal. Mas sempre que o Guarany entrava em campo, o coração voltava a bater no ritmo da infância. Em 2010, viu o impossível acontecer: o Cacique do Vale ergueu a taça da Série D. Chorou. Gritou. Sentiu-se campeão também. Depois veio o silêncio. O time caiu. Os gramados secaram. O estádio esvaziou. Mas o amor não some — adormece. Anos depois, já com os cabelos grisalhos e os joelhos duros, recebeu um convite inusitado: dirigir o clube. Ele riu, pensou, e aceitou. Não era mais sobre ser o camisa 10 em campo, mas o camisa 10 da esperança. Organizou, reergueu, limpou a alma do clube. E quando o Guarany voltou ao campo com dignidade, foi como se aquele menino lá atrás, descalço e sonhador, tivesse enfim feito seu gol. Porque às vezes o destino não realiza o sonho como a gente quer. Ele realiza como a gente precisa..

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